Um Café e um Amor Quentes . Para hoje !
Por: Mariana Raynar
Estava eu, sentada em mais um desses botequins de esquina, por mais de uma hora quando um garçom, muito bonito por sinal, com um charme de detetive de seriados criminais, veio me perguntar o que eu desejava. Pensei comigo mesmo '' Ah, agora sim eu respondo''. Este, já era no mínimo o décimo garçom que ia ali me perguntar o que eu queria, pois até o momento, me segurava em apenas um copo de água com gás, que já nem gás tinha mais.
Fiquei deslumbrada com aquele homem. Tão másculo, com um par de olhos verdes, um sorriso incrivelmente fantástico, e com uma pinta em sem queixo, que o deixava ainda mais sexy. Fiquei encantada, hipnotizada, que por alguns momentos pensei que não existia mais nada além de nós dois em todo universo.
Novamente, com aquela voz rouca, que fez o meu corpo estremecer, ele me perguntou o que eu desejava. Por um impulso, ainda cega por aquele par de olhos esverdeados respondi:
-Quente. Algo quente. Café, amor, você, nós dois, o que acha?
O seu olhar de espanto sobre mim ficou nítido e, em um engasgo me perguntou como eu podia perguntar aquilo. Foi nesse momento que a realidade veio a tona. Minhas bochechas envermelharam, fiquei sem graça, sem jeito. Coloquei o cabelo de lado, olhando para baixo, com um sorriso torto, segurei com força meu caderno de anotações e o encarei. Engolindo seco e com uma voz baixa, pedi perdão e prossegui:
-Sabe aquele lance de café e amor quentes? É isso que eu quero. Na verdade, é isso que eu necessito.
O olhei, e vi que ele ria do meu jeito atrapalhado enquanto balançava a cabeça e deslizava sua mão esquerda por aqueles cabelos negros. Para minha decepção disse que podia apenas me servir um café. Aceitei, fazer o que né? Ele saiu em direção às outras mesas e eu fui o acompanhando com o meu olhar. Suas costas largas , colada naquela blusa branca que desenhava perfeitamente cada curva, aquele avental verde do bar e uma calça desbotada. Ele realmente era lindo. Pensei comigo mesmo '' Preciso é disso''.
Olhei para meu caderno, e vi o que me levou até aquele botequim: Pedro. Pedro Stonner. Olhei para aquela foto, rodeada de corações e me senti uma idiota. Durante cinco anos, eu estive ao lado daquele homem, que me prometera o céu, a terra e o mar, e durante estes cinco anos, ele deu a uma garota de programa tudo que sonhamos, até mesmo uma filha e uma família. Eu sentia nojo. Não só dele, como de mim mesma. Nojo por cada noite que eu dormi pensando nele, fazendo planos, sonhando, acreditando em uma ilusão que foi por água abaixo quando ele virou para mim e disse: Catarina, me esqueça!
Sentir uma repulsa. Uma ânsia de vômito. Fechei o caderno, respirei fundo e passei minhas unhas por aquela mesa de metal, tirando até a tinta da propaganda de cerveja. Eu tinha raiva só de pensar em tudo aquilo que por causa dele eu havia vivido. Minhas lágrimas quase iam a tona, quando aquele homem voltou me servindo uma xícara de café.
Em seguida, perguntou se eu desejava algo a mais. Instantaneamente meu sorriso malicioso apareceu, respirei fundo e disse:
-Será que poderia fazer companhia a uma mulher solteira, carente e recém separada?
Ele riu:
-Quem dera. Não posso. Não vê que estou em serviço? Quem sabe um outro dia?
-Oras, o que que tem ? O bar está vazio e seu patrão acabara de sair. Por favor, te peço. Senta e conversa comigo ? .
Sorri para ele, enquanto o mesmo pensava em minha proposta. Eu ficava tentando adivinhar o que passava pro aquela cabeça em apenas segundos e quando do nada ele sentou em minha frente, esticou os braços e perguntou o que uma mulher, tão provida de elegância fazia sentada em um bar "xifrim" como aquele. Eu ficara espantada com tanto charme que sem muito raciocinar, disse:
-Meu caro, sem perguntas desse tipo hoje. Basta saber que me chamo Catarina, sou solteira, tenho 32 anos e quero viver a vida intensamente.
-Sorri e vi que ele não estava nem um pouco curioso ao meu respeito, enquanto eu me mordia por dentro querendo saber quem era aquele cara que em minutos havia despertado emoções e sentimentos que nunca haviam sido descobertos em trinta e dois anos.
-Engraçado, quem olha a moça sentada como uma dessas mulheres desiludidas da vida, nem pare uma certa mulher formosa, elegante e culta que sempre passa por aqui.
Soltei uma risada extremamente nervosa. Ele me conhecia. De vista, mas me conhecia. Que tola, eu trabalhava a um quarteirão dali, todas as manhãs eu passava por aquela rua,t tão apressada e cheia de mim. Quem não sabia quem eu era? Herdeira de uma das maiores empresas de publicidade de toda São Paulo. Mesmo assim, não pude deixar de perguntar se ele realmente me conhecia, apenas para ouvir novamente aquela voz rouca que fazia meu corpo estremecer:
-Desculpa, mas você me conhece?
Agora quem ria era ele. Ah, que risada! O eco daquele riso me hipnotizava. Era a sinfonia mais perfeita que meus ouvidos podiam escutar.
- Claro que te conheço. Ah seu eu te conheço Catarina! Ou melhor, Nina.
Seu sorriso fora ao extremo e o meu mundo rodou. Voou. Não! Não era possível. Como? A vida não seria tão engraçada a esse ponto. O destino por mais cruel que fora comigo, não brincaria a esse ponto. Não! Não! Mil vezes não! O mundo não seria tão pequeno assim.
-Espera aí. Eu não te disse que esse já fora o meu apelido. Você não me disse o seu nome. Ninguém nunca me chamou de Nina além do ...
-Rafa. -Ele sorriu. - Isso aí Nina. Rafael Andrade Limões. Quanto tempo hein? Exatos 15 anos e você continua linda, com esse jeito atrapalhado, impulsivo, com um olhar misterioso que só estes teus olhos cor de mel possuem. E seu sorriso? Continua doce. Bem que eu imaginara que jamais iria me reconhecer. Sempre passou por mim e nunca me reconheceu, não seria agora, tão atordoada que iria.
Eu estava anestesiada. Completamente pasma. O meu primeiro namorado magricelo, que usava aparelho era aquele homem fantástico. Meus pensamentos voltaram a minha infância, a minha juventude, a casa de praia dos meus pais que era próxima a casa dos avós do Rafael, aquele domingo chuvoso onde o deixei para trás . Não, eu não havia o deixado . Eu precisava ir para o Rio de Janeiro estudar. Eu havia voltada, mas ele tinha ido embora. Ele que partiu. Ele que me deixou. Meus pensamentos viraram um furacão e só me despertei com os estralos dos dedos de Rafael.
-Oras Nina, não durma acordada. Me conte, o que aconteceu durante todos esses anos ?
Ainda anestesiada e perplexa com as voltas que o mundo dá, sorri, respirei fundo, o encarei e descarreguei toda a minha vida nos últimos quinze anos:
- Bom ... - Contei ao Rafa toda a minha vida, desde a faculdade, a empresa de publicidade, meu namoro e noivado com o Pedro, até chegar aquele dia que o reencontrei. E ele sempre, apenas me ouvindo e sorrindo.O tempo passou. O sol se pôs. A lua cheia já iluminava toda cidade quando olhei pro relógio e me espantei.
-Meu Deus Rafael ! Já são 18:45 ! Eu entrei aqui antes das 14:00 horas !
Rafael me olhava com toda paciência do mundo. Ele parecia se divertir a cada chilique meu. Calmo como sempre, levantou, pegou minha bolsa. Foi até o balcão, pegou as chaves, olhou para mim, sorrio e disse:
-Vamos madame. O café de hoje fica por minha conta.
Eu sorria espontaneamente. Não possuía mais o controle dos meus lábios. Minha mente gritava sobre o amor e como se pudesse ler a minha mente, saiu dos lábios daquele enigma em forma de homem a seguinte frase:
- Ah, e o amor quente ... Esse, hoje à noite também pode deixar comigo.
Sorri de um lado ao outro, peguei meu casaco e sair acompanhada de Rafael. Era inacreditável tudo aquilo, mas por muito tempo eu acreditei apenas no que eu queria acreditar e não no que a vida queria me mostrar. Olhei para o céu e vi uma estrela cadente caindo. Lembrei-me que nunca acreditei que elas atendiam pedidos, mas a razão era a ultima coisa que falava alto naquele momento. Suspirei e pensei comigo mesma, enquanto desfilava por aquela avenida de mãos dadas com Rafael:
'' Dizem que estrelas cadentes são estrelas morrendo, mas até mesmo no leito da morte elas não deixam de brilhar e atendem pedidos de corações sinceros. Ah, estrela querida, que uma Catarina tenha morrido e outra nascido. Estrela querida, este é o meu pedido''
Autora: MARIANA RAYNAR